não tenho mais
não tenho mais
não tenho mais
seu telefone
você também
nem lembra de mim
mas tanto faz
mas tanto faz
mas tanto faz
já esqueci de você
você também
nem lembra de mim
eles querem dinheiro
pra chorar no enterro
da civilização
de mercúrio a plutão
eles não têm espelho
são seus próprios coveiros
vampiros de plantão
nos levando à extinção
a propaganda da televisão
falou que eu devia ser
bem mais bonito, bem dotado e bem sucedido
mas eu não sou não
a propaganda da televisão
falou que eu devia ter
o carro importado e o creme dental do seriado
mas eu não tenho não
o que é que eu vou fazer
se o meu controle remoto não tem pilha
a propaganda da televisão
falou que o cartão de crédito
e o refrigerante light vão salvar o planeta
mas eu não sei não
aa propaganda da televisão
falou que o jornal e a novela
são bem mais interessantes do que a minha vida
mas isso eu já sabia
william bonner, fátima bernardes e glória maria
Após um hiato de mais de um semestre sem apresentações — mesmo tendo lançado, neste período, o seu terceiro disco, “O Campo Sutil” —, em novembro de 2015 o Chapa Mamba reuniu a sua recente formação de trio para realizar uma primeira turnê propriamente dita, ainda que reduzida, por três estados. Depois de alguns ensaios exaustivos no Rio de Janeiro, a banda seguiu de buzão em buzão para Belo Horizonte e Goiânia, terminando a sua jornada em Brasília, onde, em um par de horas foram gravadas as faixas deste disco. A sessão, patrocinada por Biu, foi agendada para aproveitar a passagem pelo Distrito Federal, e marcaria o segundo lançamento de uma série de compactos exclusivos da Lombra Records que acabaram não saindo como o planejado — mesmo com milhares de capas já impressas e acabadas em serigrafia em algum lugar em Curitiba (é uma longa história).
Reunindo canções antigas (“Seu Telefone” e “A Propaganda da Televisão” datam aproximadamente de 2006, quando eu ainda me apresentava como homem-banda. Dessa época, “Interurbano Blues”, “No Tempo da Vovó” e “A Soma do Quadrado dos Caretas” já haviam sido registradas pelo Chapa Mamba) e outras feitas para a ocasião (“Arranca-Rabo”, “Vale Nada” — que teve a letra terminada minutos antes da gravação — e “A Atual Conjuntura” — inventada na hora para aproveitar o tempo de sobra no primeiro lado), foi a primeira vez em que Binho participou de um álbum da banda, além de contribuir com o riff de baixo de “Vale Nada”. Fechando o segundo lado, incluí, por motivos puramente sentimentais, a versão de um acordeonista anônimo de rua para a canção “Camiños de Michoacán”, de Bulmaro Bermúdez (foi preciso ouvir horas e horas de mariachis para descobrir isso), registrada em uma lanchonete na Cidade do México também em 2015, pouco antes de me mudar do Rio para o sul do país.
Após uma série de desentendimentos com o estúdio — ao que parece, a propensão a ataques de estrelismo no meio fonográfico está intimamente ligada ao preço dos equipamentos e tratamento acústico, embora seja inversamente proporcional ao talento —, o jeito foi aproveitar a pré-mix asséptica e esterilizada (mas tudo gravado rigorosamente conforme o manual, como se isso bastasse) a que tivemos acesso, e arrastá-la um pouco na lama. Além dos overdubs, algumas pérolas pontuam o início de uma ou outra faixa: Biu tirando o corpo fora (“não tenho nada a ver com isso não!”) e roncando como uma motosserra, ambas registradas sorrateiramente com um gravador de fita cassete nos idos de 2011 em um hotel em Goiânia, onde o Chapa Mamba havia ido se apresentar.
Fechando, finalmente, um ciclo que foi iniciado há mais de dez anos e agora se materializa neste pedaço de plástico com ranhuras sonoras que você tem em mãos (caso tenha tido a sorte de conseguir um) ou nas ondas digitais do seu aparelho de streaming, selecionamos, para a capa do disco, mais uma imagem da artista Larice Barbosa — que já havia cedido gentilmente seus desenhos para o pôster da turnezinha em que ele foi gravado.
Stvz
Porto Alegre, janeiro de 2018
credits
released February 25, 2018
Chapa Mamba é Bruninho, Binho e Stvz.
Faixas 1, 3 e 5 por Stvz; 2 e 4 por Chapa Mamba
e 6 por Bulmaro Bermúdez.
Gravado ao vivo em Brasília (DF) em novembro de 2015, com overdubs posteriores em Porto Alegre (RS). Produzido por Stvz e Biu.
Imagem da capa:
“Rito depois do forró”, Larice Barbosa
(tinta sobre papel, 2017. 21x14,8 cm, detalhe).
larici.tumblr.com
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